domingo, 4 de maio de 2014

The Sun is God

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Beth


era a manhã primordial e não tínhamos dormido por causa da chuva de meteoros
nada de notícias do bombardeamento sobre Kilgore ou dos espasmos ctónicos
da falha do Levante – um megafone suspenso num dos troncos curvados do palmar
anunciava noventa e seis por cento de humidade e sessenta e nove graus Fahrenheit;
desfiz-me do nó górdio que me enfeitava as feridas dos artelhos, cobri-me do lenço
que me ofereceras de véspera (antes da sobredosagem de laudanol e mescalina) e fui
trilhar a mansidão das ondas para me lamberam a areia prateada colada aos tornozelos;

foi então que cega pelo Sol do Nascente pisei um cardo maligno, me nasceu perfeita
uma Lua negra no ardil do peito e te fui amassar os calcanhares no queixo e nos malares
para me libertares daquele aflitivo envenenamento da penetração dos espinhos:
para ti só uma anémona iridescente a acordar  na acidulada tepidez das águas do Índico




The Sun Is God

Alexandre Sarrazola
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